História de Fernão Ferro

História de Fernão Ferro

Em 1993 de 27 de maio, foi criada a Freguesia mais jovem do Concelho do Seixal.

As origens deste lugar não são conhecidas com exatidão. É com o imaginário popular que traz sempre algo real. Assim, com base na lenda, é referida a hipótese da atual Freguesia de Fernão Ferro, ter origem do nome de Fernão Peres, irmão de D. Paio Peres Correia, senhor feudal, Mestre da Ordem de São Tiago, originária do ano de 1161 em que treze cavalos, com o objetivo de defender os peregrinos que iam venerar o sepulcro da Sant’Iago em Compostela, decidiram-se organizar e constituir, com a irmandade leonesa de Santo Elói, uma Associação eclesiástica e militar.

O “Babilon”, cognome por que terá sido Fernão (Ferro) Peres, era na época atribuído aos cruzados que no reinado de D. Sancho II demandavam terras da Babilónia, para defesa e guarda do túmulo de Cristo.

Sabe-se que por alturas da Guerra Civil em que se confrontaram o rei D. Sancho II e seu irmão (futuro Afonso III), este Fernão, caído em desgraça, procurou refúgio neste lugar protegendo-se da anarquia. Aqui, Fernão Peres cobrava tributo a todos os viajantes que demandavam de e para Sesimbra, no antigo caminho que servia de comunicação para Almada e onde está situado a conhecida “Casas das Conchas”.

Fernão Peres, tal como o seu irmão D. Paio Peres, era tido como um homem cruel e corpulento. A Cruz de Cristo, incrustada nas armadas dos cruzados, simbolizava o punho da espada, arma que sempre os acompanhava e que na época era designada por Ferro. Mais a atividade de ferrar os animais, terá tido influência no tratamento e no nome deste Fernão Peres para Fernão Ferro. Por qualquer destas razões, aliadas à sua crueldade e corpulência, o lugar começou a ser conhecido por “a de Fernann Ferro”.

A primeira referência a Fernão Ferro como lugar, encontra-se registada em documento existe na Torre do Tombo, onde refere o seguinte: “Em 10 de janeiro de 1501, os Sesmeiros e Sesimbra (Alcaide-Mor e Almoxarife) no Castelo, dão Carta de Sesmaria a favor de Braz Teixeira, cavaleiro da Casa de El-Rei Nosso Senhor D. Manuel I, os terrenos onde se chama a de Fernão Ferro com as suas fontes e ruínas de uma casa que pelo aspeto parece ser de outros tempos, para os aproveitar em vinhas, terras de cultivo e em pomar”.

João Teixeira, filho de Braz Teixeira, em 1547 ano da sua morte, deixa em testamento as frades Jerónimos do Mosteiro de Belém, a Quinta de Fernão Ferro. Em 1548, a pedido dos frades Jerónimos, D. João III, passa- lhes “Carta” onde os autoriza a tomar posse da Quinta.

Com a extinção das Ordens Religiosas, corria o ano de 1834, os pinhais da Palmeira e do Casal de Fernão Ferro, foram vendidos em hasta pública e adquiridos por Gabriel Borges Marques Rocha, que os trazia arrendados para o cultivo de tabaco.

Ainda nesse ano, com a liquidação do “Contrato de Tabaco”, os pinhais, terras de cultivo e as casas são adquiridos por Abraão Wheellhouse, cuja filha Georgina herdou como dote de casamento com José Joaquim de Almeida Lima, em 1849.

É antiga a designação de Fernão Ferro como lugar mas o seu povoamento é recente. Corria o ano de 1902, quando se iniciou a fixação de famílias, oriundas de outros lugares como, Brejos da Moita, Barra Cheia e Penalva. A família dos “Amaros” terá sido a primeira a fixar-se, seguindo dos “Valentes”, “Mirandas”, “Sacoutos”, “Padre Nossos”, “Gomes”, “Nogueiras”, “Tostão”, entre outras.

Quando se fixaram só existia vale, mato, bruno e pinheiros mansos. O planalto era arborizado por densos pinhais. Nestes terrenos, trinta e três famílias desbravaram matos e cultivaram terras. Outras trabalhavam nos pinhais da família Almeida Lima no corte do pinho, que era transportado para o Porto da Raposa – orla ribeirinha da Amora. Neste local, o pinho era embarcado em fragatas para Lisboa, sendo utilizado como combustível nos fornos da capital.

Em Fernão Ferro chegaram-se a plantar vinhas. Produziu-se bom vinho tinto da uva Piriquita e vinho branco da uva Molina. As vinhas, tão abundantes, perderam-se devido à filoxera.

No local da “Casa das Conchas”, propriedade do António Xavier de lima, é onde passa o antigo caminho entre Sesimbra e Almada. Sabe-se que em 1900, era habitada por um guarda do pinhal. No andar térreo existia uma abegoria, lugar onde se guardava o gado ou alfaias agrícolas. Neste piso, existe uma janela redonda virada a sul, um forno para cozer pão e uma malhada para gado. José Caetano Garcês foi o último inquilino desta casa.

As habitações dos primeiros habitantes eram de construção aloganda e de piso térreo com rara aberturas nas paredes de adobe e taipa, volumes fechados e presas ao solo. Ao interior compartimentado por divisórias de madeira, adossavam-se sucessivos anesos e o forno que, com as largas chaminés, modelavam um jogo de volumes que com as caiações, contrastavam. O piso das habitações era de terra batida, mas todas as semanas era regado com água dissolvendo o barro, ficando liso e colorido.

Em 1920 foi reparado o chafariz de Fernão Ferro. Apesar de os avis colocados, informando que água é imprópria para consumo, quem passa, utiliza-a. Por volta de 1944, a família Almeida Lima, senhorias dessas terras, promoveram uma ação judicial para despejo dos rendeiros que durante décadas haviam desbravado matos e transformando em produto hortejo, construíndo casas e criando famílias.

Através da publicação do Decreto Lei n.º 39917 de 20 de novembro de 1954, o Governo expropriou os terrenos, entregando-os ao colonos, com mediação da Junta de Colonização Interna, para neles continuarem a atividade hortícolo ao preço de 1$000 por metro quadrado. Esta ação judicial decorreu durante 10 anos com o Dr. Luiz Varela Cid, advogado de defesa dos rendeiros, com a colaboração de Rafael Alves Monteiros, Morador no Castelo de Sesimbra.

Nesta zona, havia várias lagoas e charcos, sendo as mais importantes designadas por “Lago de Sesimbra”, “Lagoa do Colorau” e “Lagoa das Marcelas”.

No inicio dos anos 70, várias notícias na imprensa referiam-se a proliferação dos Jacintos de águas no Rio Tejo – planta infestante – que se reproduzira nos charcos e ribeiros de Fernão Ferro, sendo arrastadas para o rio.

Fernão Ferro era passagem no inicio do século da diligência que transportava os viajantes de Sesimbra para o Seixal. A carreira era explorada por João Maria dos Anjos, e em Fernão Ferro, havia uma muda dos animais que puxavam a diligência.

No ínicio deste século, ainda havia lobos nas matas de Fernão Ferro e, percorrer qualquer das veredas que as atravessavam, era sempre temeridade já que para além dos lobos, se açoitavam malfeitores e assaltantes.

No mês de setembro, todos os anos passavam por Fernão Ferro o círio da região saloia de Lisboa e da Costa da Caparica para a romaria da Senhora do Cabo Espichel. Vinham em centenas de carroças engalanadas com canas e enfeites de papel e era habito descansarem e almoçarem junto ao Chafariz de Fernão Ferro.
Adeus Fernão Ferro
Até o ano que vem
Se não fosse a Senhora do Cabo
Não vinha cá ninguém

Em 1960, a Escola Primária de Fernão Ferro “Plano dos Centenários” tinha vinte alunos, alguns dos quais vinham a pé da herdade de Apostiça, Mesquita e Flor da Mata.

A construção da ponte sobre o Tejo e o desenvolvimento industrial da Margem Sul, veio provocar uma nova dinâmica a esta zona. Os trabalhadores oriundos dos meios rurais que tiveram de abandonar por falta de condições, procuravam emprego nas novas unidades fabris e residência ou local, onde pudessem através de trabahos agrícolas, manter a ligação às origens.

Em 1969, autorizado pela Câmara Municipal, que concedeu alvará, António Xavier de Lima, inicia a venda de parte da sua propriedade em lots com relativas facilidades de pagamento. Com o lema de “Amigo vende a Amigo”, este sistema de venda, provocou uma corridaa aos lotes integrados na zona licenciada, tendo sido alargado às zonas envolventes. As obras que constatavam no Projeto Urbanístico inicial foram executadas, lentamente, até ao ano de 1974.

Em 1970, este loteador, constrói uma Igreja e um Centro Paroquial que viria a ser inaugurado pelo Cardeal Cerejeira. Neste ano é, também, publicado pela primeira vez o Jornal de Fernão Ferro, para logo a seguir ser extinta.

Em 1974, o Gabinete do Professor Costa Lobo, elabora para Fernão Ferro um Plano de Reconversão e prevê 30 000 habitantes para esta zona.

Surgem as Comissões de Moradores que reconhecidas e apoiadas pela Câmara Municipal, dinamizam a instalação da rede de iluminação pública, instalam-se vários sistemas de drenagem de águas que e a construção da Escola Primária nº 2. Na Estrada Nacional constroem-se abrigos para passageiros dos transportes públicos e outros melhoramentos promovidos pelas Comissões de Moradores.

De 1977 a 1981, Fernão Ferro atravessa um vazio, sendo consideranda em 1978 uma zona crítica, devido à chegada de famílias e fixação de residência das mesmas, visto que levou um aumento de carências.

Em 1981, um grupo de moradores e proprietários, conscientes da gravidade da situação constituem uma Associação com o apoio dos restantes moradores, tendo uma responsabilidade de dinamizar o processo de urbanização. Esta Associação Dinamizadora para Urbanização de Fernão Ferro (ADUFF), começa a ganhar credibilidade junto da Câmara Municipal do Seixal, que a 26 de julho desse ano, num comunicado à população, informa que irá proceder à instalação da rede de águas para consumo.

Estão criadas as infraestruturas básicas, artérias pavimentadas. O futuro apresenta-se com outro significado, mais risonho para a comunidade, em termos de equipamentos.

Estamos cientes que Fernão Ferro será um lugar aprazível e onde dê gosto de viver. Longe os tempos em que se pagava tributo pela passagem por essas terras a mando de Fernão (Ferro) Peres.

Fernão Ferro
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